Há dias em que a vida não nos serve. Sim, há dias que não têm o nosso tamanho. As horas sabem a mais um passo a caminho do que se perdeu. Há horas mortas. Horas que passam por nós e onde apenas pomos um silêncio quieto e surdo de incompletude.
A vida pode ficar-nos aquém da vontade, do sonho, dos desejos mais convictos. Se tanto dela não depender de nós. Ainda estou para perceber se as coisas duram mais se nelas pusermos um desejo com mais força. Ou se são essas as coisas a primeiro desabar sob o peso desse querer como um tiro no escuro.
Esses sonhos a que emprestamos a certeza e a carne são a nossa mão no escuro, a força motriz que nos faz atravessar pântanos de incerteza e jogos arriscados. Acontece que não a queremos de volta - a toda a certza que emprestamos ao nosso sonho com alguém, queremos que fique ali apenas à espera que os dias lhe cheguem connosco neles.
Não sei se acredito com força demais. Ou se espero que os dias sejam mesmo aquilo que pus neles e, quando isso não acontece, tenho apenas uma outra versão da vida que não tive tempo de aprender a amar; que não alimentei e fiz minha. Porque isso me acontece fora das minhas mãos.
Mais uma vez são as mãos de outros a mexer cá dentro. Sinto-lhes as mãos, já sem corpo, a despedaçar um sonho. E aí a Vida não nos serve. Fica pequenina como aquelas roupas que já não servem e se dão aos irmãos mais novos.
Tanto nosso já foi dos outros. E sobretudo o que não foi na nossa vida é deles. Desses que nos levam o sonho e deixam a ausência maior do que eles.
Há dias que não nos servem. Nesses dias, a mão vai no bolso. Com a manga curta que já não serve. E a mão apertada, a lembrar uma segurança que já não há.
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