Conheci gente solitária. Gente que não partilhava o ar. Que o sugava inteiro para dentro dos seus pulmões. E o ar entrava e saía sem nenhum sobressalto, sem reavivar nada. Que felicidade, pensavam eles. O podermos segurar só o que é nosso, com o ar a passar sem se prender nas arestas dos sentimentos e sem ter que alimentar nada que não sejamos nós.
Gente segura, como rochas. Gente que dorme à noite sem a alma presa a alguém que se perde nas vielas azedas do Mundo. Gente que não carrega o peso de outros corpos. Corpos, que diabo, cansam-se, vacilam e apodrecem.
Gente contente e orgulhosa. Gente sempre una, sem divisão.
Gente que não almoça senão comida e que deixa na beira do prato os desgostos e as desgraças alheias.
Verdadeiras fortalezas. Não há vento dos afectos, nem o mar da discórdia.
Conheci gente solitária. E dividi com elas o meu ar. O meu ar prendeu-se nas rochas dos meus sentimentos por elas. Almocei-lhes o cansaço e deitei-lhes o corpo na minha casa, onde entram todos os ventos e há um mar que sempre encontra a sua praia. Não dormi pensando onde andariam os seus passos pequeninos e incertos.
Dividi-me em infinitas partes até minha ser só a milésima parte de mim. A solidão do outro lado da muralha dessas pessoas foi a única coisa que não entrou comigo. Porque sempre lá esteve. Esse fantasma maior que tudo, do tamanho de tudo.
E senti-me feliz. Nunca se deixa de ser verdadeiramente solitário. Feliz por ter mais uma vida na minha.
Dar o amor, assim sem mais como a mão que se estende sem que demos conta.
Dei e acreditei com a mesma força leve.
Espero pelo reencontro.
Há agora distância. Mas antes de partir olhei para trás e os olhos estavam húmidos.
E eis que a solidão não é mais o que nunca se teve mas a ausência do que já foi nosso.
Até um dia. (que vai chegar.)
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