A morte de alguém que se ama é como uma amputação. Uma dor que lateja muito depois de perdida essa parte do nosso corpo. Perde-se o membro, mas não se perde o hábito de o ter como numa repetição feliz. E o que é a morte se não uma felicidade interrompida em que se percebe que o Homem foi feito para a vida como as flores para as Primaveras florindo no mundo. A vida é um empurrão cego em direcção ao tempo, através dele como se tudo fosse eterno. E quando se finda, perdura sempre um rumor de passos como nas noites de festa em que o soalho treme e estala com os que vão ficando no abraço da noite e continua tremendo muito depois de tudo ter acabado como um carrossel girando vazio.
Tudo se suspende como numa espera: o lugar na mesa para ser ocupado, os casacos para serem postos para o frio da rua, a música para ser ouvida e as páginas dos livros para serem retomadas.
A morte de alguém é uma morada vazia como um ventre sem esperança - sentimos um eco que nunca desaparece e que buscamos numa estrada longa em que se anda sempre a direito. Caminhamos desejando voltar ao início para retomar o fio quebrado da vida e, por isso, a morte acorda no Homem a esperança da eternidade e do recomeço que é o verdadeiro antídoto da solidão e o princípio de todas as formas da fé.
Sem comentários:
Enviar um comentário