Rewind

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Avó,

R., meu amor, é bonito seres um homem com um coração de menino, sabes?
 
As coisas que só a minha Avó me diz.
 
A Avó dos olhos doces, a Avó que fez com que o regresso nunca fosse longe demais.
 
Obrigado, Milinha,
 
Sabes, Avó, vou ter contigo para salvar o meu coração,
 
Vou ter contigo para ser possível sonhar por cima da ruína do medo
 
e sorrir por ver o mar dos teus olhos encher-se todo de luz outra vez.
 
 
R, meu menino, temos que conversar!
 
Conta-me coisas da tua vida!
 
As coisas que eu te digo, Avó,
 
Como se por te chamar todos os dias
 
Tu possas lembrar-te da paz que te promete o teu jardim
 
e da nossa casa em que os relógios pararam há um mês à tua espera
 
 
Amo-te, Milinha,
 
E as flores que te levo são as minhas palavras,
 
os meus dedos a rimarem com os teus por dentro do tempo
 
a salvo do tempo,
 
para lá do tempo,
 
o tempo todo.
 
 
As coisas que só a minha Avó me diz
 
A falta que só ela me faz
 
A saudade que só tenho para ela
 
 
E a casa com o jardim muito quieto
 
E os relógios parados como se esperassem
 
 
Porque o amor é isto -
 
uma casa onde as flores esperam
e os relógios param
por quem sabem 
ter sempre que chegar
 
só para que a casa seja casa
e se possa viver tudo devagar.
 
 
RM| XXVII-II-MMXVI 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Avô,

13.02.
 
Quero pedir-te uma coisa, Vovô.
 
Diz pequeno,
 
Olha pela Vovó, sim?
 
 
Hoje, Avô, fui lembrar-me de ti para ao pé de quem mais te amou.
 
[Parabéns!]
 
E falei de ti a tarde toda - as mãos sempre dadas com a esperança que só o teu nome acende.
 
A Avó riu muito - o coração dela vive do que deixaste nele, sabes?
 
[Obrigado]
 
Hoje, Avô, queria muito pedir-te uma coisa, não te importas?
 
Olha pela Milinha, sim?
 
 
Peço-te a ti que foste o maior coração de todos,
 
que foste a minha casa, a minha voz, o meu amigo
 
que não deixes que a nossa Milinha tenha pressa.
 
 
Hoje, Avô, não houve festa, nem mesa comprida, nem bolo,
 
mas, mesmo num hospital, eu, o A., os Pais e a Vovó estivemos contigo
 
[porque estivemos juntos]
 
 
Hoje, Avô, fizeste anos
 
e eu peço-te, a ti, que sempre quiseste mais para nós do que para ti
 
que o azul dos olhos da Vovó continue a ser o céu para onde te mudaste.
 
 
Faz, Avô, o que puderes,
 
só tu que sabes a falta que vocês me fazem.
 
[Obrigado]
 
 
Nós por cá, não te esquecemos  
 
E, agarrados à luz que acendeste nas nossas vidas,
 
Havemos de chegar juntos ao outro lado do escuro.
 
Um beijo,
 
R.