Rewind

domingo, 2 de junho de 2019

Aos 32 anos,

Aos 32 anos, sei que o tempo não se deve contar. 

Outro dia, disse à minha Avó, 

Há pessoas que posso amar uma vida toda. E uma vida inteira não me chegaria. 

E é isto - aos meus, àqueles que me receberam neste caminho da vida, que, todos os dias, me escolhem, a minha vida inteira nunca lhes chegará. 

Nesta data, mais do que tudo, celebro aquilo que nunca poderá ter fim - este puzzle de afecto, de verdade, de perdão em que, nenhum de nós, prescinde do outro, se esquece do outro, avança, enfim, sem olhar para trás - estamos todos?

Nunca gostei de viajar sozinho - e, bem vistas as coisas, fui sempre uma casa habitada. 

O seu domicílio fiscal, faz favor?, 

Entendessem as finanças de amor, responderia, 

A minha família

Facto é, que é a verdade. Se é um facto tributário ou não, isso é coisa que não cabe aqui. 

Celebro o milagre de, por eles, ter uma vontade infinita de que o bem aconteça - de que, mesmo errando, ser, para eles, tudo o que garanta que ficamos juntos, que nos encontramos, que nunca nos perderemos uns dos outros. 

Aos 32 anos, ainda não aprendi outro amor que não seja este - o de amar-ao-perto. 

A eles, por mais óculos que a oftalmologia invente, nunca gostarei de os ver ao longe. 

Todo o coração que ama, vê mal ao longe, está claro. 

Dizia que, por aqui, não se conta o tempo. 

Aos 32 anos, senti-me, já, várias vezes, eterno e julguei, outras tantas, que morreria se, por acaso, não encontrasse a minha casa e, nela, cada um destes pedaços de mim, no seu lugar. 

Por isso, que eles caibam sempre todos no abraço que lhes ofereço. 

Estamos todos?, pergunta o meu coração. 

Naquele momento, julgo-nos eternos. 

Aos que já cá não estão, não deixo nunca de os esperar. 

Haverá sempre um lugar na minha mesa para eles. 

Essa mesa sou eu. 

Há 32 anos, sentaram-se todos para nos receberem. 

Eu não direi nunca que a festa já acabou. 

Obrigado.

Um beijo, 

R. 

RM|II-VI-MMXIX