Rewind

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Mãe,

as tuas mãos nas minhas, Mãe
[sempre sem pressa]
nos cinzeiros de todos os encontros
o cigarro que arde tão depressa
quanto a paz que chega deslizando devagar

e os teus olhos a atravessar a rua rumo aos meus, Mãe
[sempre com pressa]
nos semáforos de todas as distâncias
o vermelho fechado que se ignora tão depressa
quanto o peito que me arde e que te chama

e o teu riso de vidraça aberto em infinito, Mãe 
[sempre sem pressa] 
nos poentes de todas as estradas
a curva que se engole tão depressa
quanto aos dois nos chamam as coisas tão sem nome

e de ti, Mãe, tudo quanto me diz que a poesia das flores de uma alameda inteira nunca chega 

no silêncio de todos os poemas que te faço -

há sempre tempo para um cigarro
um vermelho que se ignora num semáforo
uma vidraça que se abre devagar

e um obrigado por sempre te atrasares 
para que fosse eu quem chegasse sempre a tempo. 

Obrigado. 

Parabéns, Mamã. 

RM| X-XI-MMXVI