Rewind

domingo, 13 de setembro de 2015

da janela do meu quarto,

I.

da janela do meu quarto,

uma, duas ruas

e o coração sempre cheio de atalhos para chegar a casa


da janela do meu quarto,

o meu Avô ainda no meio do jardim

e a saudade assombrando o parapeito dos meus olhos


da janela do meu quarto,

uma, duas ruas

e sempre as mesmas palavras em lábios novos


da janela do meu quarto,

a minha Avó sempre à minha espera

e nós a guardarmos um do outro o milagre do nosso encontro


da janela do meu quarto,

uma, duas ruas

e a minha infância diabética de amor



da janela do meu quarto,

eu a dizer: "Vovó não morras, tá bem?"

e M. a dizer: "Sabes, pequeno, é por ti e pelo A. que estou viva."


da janela do meu quarto,

uma, duas ruas

e a promessa que fiz de que os sonhos teriam sempre este chão


da janela do meu quarto,

o medo de que o regresso não possa ser ao mesmo lugar

e o A. a dizer-me: Está tudo bem, R., está tudo bem."


II.


da janela do meu quarto,

a recém-felicidade sempre

e, no silêncio do meu sangue, a mímica dos vossos nomes



da janela do meu quarto,

o vestir-me de propósito para vos ir dizer: "amo-vos"

e nunca poder haver pretérito nos verbos com que vos chamo


da janela do meu quarto, no vidro embaciado,

uma criança escreve com os olhos,

Que fazes aí, R?

Agradeço, agradeço.

RM