Rewind

domingo, 28 de setembro de 2008

DMB - Typical Situation

Ten fingers counting we have each
Nine planets around the sun repeat
Eight ball will last if you triumphant be
Seven oceans pummel the shores of the sea
It's a typical situation
In these typical times
Too many choices, yeah
It’s a typical situation
In these typical times
Too many choices.
Everybody's happy
Everybody’s free
We'll keep the big door open
Everyone'll come around
Why are you different
Why are you that way
If you don’t get in line
We'll lock you away
It all comes down to nothing
Six senses feeling
Five around a sense of self
Four seasons turn on and turn off
I can see three corners from this corner
Two’s a perfect number
But one, well
Everybody's happy
Everybody's free
We'll keep the big door open
Everyone'll come around
Why are you different?
Why are you that way?
If you don't get in line
We'll lock you away
It all comes down to nothing
It's a typical situation
In these typical times
Too many choices, yeah
It’s a typical situation
In these typical times
Too many choices
We can’t do a thing about it
Too many choices, yeah
It’s a typical situation in these typical times..
Everybody...



A-Zs Dave Matthews Band Collection
"264 - Queres amar a vida e não te deixam. Tens de respirar o ódio, o insulto, o bafo azedo do vexame e isso faz-te mal. Emanações de um pântano de febres, de esgotos a céu aberto com o seu fedor de vómito. Um dos tormentos do inferno medievo era esse, o fedor - a essência da podridão. E o que te fazem respirar de uma flor, do aroma de existires? Porque é que o ódio é assim fundamental para os teus parceiros em humanidade existirem? Têm uma estrutura diferente de serem, Deus fabricou-os num momento de mau génio. Vale a pena irritares-te contra a existência da víbora ou do touro?"
Vergílio Ferreira in escrever

O segredo é a alma da acção

Não fales. Falar, às vezes, cansa. Quem luta, não diz que luta. Quem ama, não diz que ama. Ou, por dizê-lo e só fazer isso, não consegue tornar nada mais real. Tanto se pode dar em silêncio. Tudo se pode dar, em silêncio.
Dá e não penses. Protege e encosta-te, confiando que terás o apoio, sempre.
Deixa no Mundo e dá na tua vida o melhor de ti - sempre o mais sentido desejo de crescer com alguém, de ver na face de alguém o deslizar do tempo que passou e que nem sentiste.
Alegra-te por teres alguém por quem desviares os dias e as horas, assim do nada. Até que pensas que a tua vida te saiu ao lado do que planeaste, mas que foi a forma como o sonho se viveu.
Sim, quase sempre, os passos que trilhamos ao lado do pensado, são a vida a valer por isso mesmo - o conseguirmos correr atrás e ao encontro do que nos faz sentir vivos.
Relembra cada um dos passos, cada um dos desvios. Cada um dos encontros e desencontros.
E, se te sentires cansado, pára. Mesmo em frente da encruzilhada.
E, com efeito, quem poderá mudar o que foste? Quem poderá desdizer as promessas que fizeste e que talvez não tenham querido que cumprisses? E não lamentes toda a esperança, todos os desejares e os quereres, ainda sem carne. Recorda. Recorda o que realmente foste. E revisita os locais. Tudo o que foste, tu sabe-lo e nada poderá apagá-lo. Acreditaste. E basta que um acredite para que tenhas sentido aquele caminho como teu e, aquele como o ponto aonde querias ter chegado.
O silêncio é a alma da acção. Não desanimes se pensas que nunca saberão o quão de ti foi deles. O que deste está lá. E talvez as memórias não passem as duas pelo mesmo sítio, a lembrar o que foi vosso. Mas tu sabes porque deste e para que deste.
E mesmo que o Mundo mude, que leve o que foram, haverá algo a unir-vos, mesmo que haja alguém a querer esquecê-lo primeiro. Quem ajuda um ajuda muitos; quem quer ajudar ou ter todos, acaba nao tendo ou ajudando ninguém.
Sorri e lembra, com orgulho, o acreditar que nunca morre em ti. Revive e evoca, porque acreditaste. E talvez, um dia, quando as duas memórias se encontrem no mesmo sítio, percebam que pode haver mais um desvio nos passos. A caminho do mesmo.

domingo, 21 de setembro de 2008

Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade

Terror de te amar

Terror de te amar num sítio tao frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeiçao
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia
Círculo de Poesia
Moraes Editores
1975

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sometimes it Happens

And sometimes it happens that you are friends and then
You are not friends,
And friendship has passed.
And whole days are lost and among them
A fountain empties itself.
And sometimes it happens that you are loved and then
You are not loved,
And love is past.
And whole days are lost and among them
A fountain empties itself into the grass.
And sometimes you want to speak to her and then
You do not want to speak,
Then the opportunity has passed.
Your dreams flare up, they suddenly vanish.
And also it happens that there is nowhere to go and then
There is somewhere to go,
Then you have bypassed.
And the years flare up and are gone,
Quicker than a minute.
So you have nothing.
You wonder if these things matter and then
As soon you begin to wonder if these things matter
They cease to matter,And caring is past.
And a fountain empties itself into the grass.

(Brian Patten) in Abrupto

domingo, 14 de setembro de 2008

Apeteceu-lhe chorar. Mas faltava-lhe o espaço. O espaço para as lágrimas caírem de uma enxurrada só. Para deixar sair todas as dores alojadas nas curvas e contracurvas do coração.
Caminhou na praia, com os pés bem enterrados na areia. Entrou no mar e desaguaram ali todas as cicatrizes, todas as dores, todas as lembranças de um futuro adiado. Tudo o que ainda doía.
Chorou. E muito. Chorou tudo.
E nessa noite quando choveu, as nuvens choraram por ela.
"Perdoai-lhes, Senhor
Porque eles sabem o que fazem."

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 13 de setembro de 2008

Deus

Porto, 13 de Setembro de 2008

Deus,
Esta carta não é um pedido de desculpas. Não é um pedido por milagres, nem coisas que me levem de vez as dúvidas. Se bem te lembras de mim - sim, aquele puto louro sempre com perguntas, a tentar destruir, talvez para que alguém lhe desse a resposta que levasse as nuvens, aprendi a viver com elas, desde sempre. Também tenho dúvidas relativamente a ti e ao sentido das coisas. Bem sabes, falo muito. E contigo, também. Aqui vai uma carta. Sim, eu sei que falo depressa e, às vezes, não sei ouvir. Aqui vai.
Sabes o que se tem passado nos últimos dias, não? Sabes que tem sido difícil saber alguém de quem se gosta mal, ou, com alguém a sofrer também, certo? Por isso, esta carta serve para te falar do Amor.
Mas do Amor visto de baixo. Do Amor vivido por entre as pedras do caminho, do Amor feito de terra e de gente. Do Amor feito, desfeito e refeito, vezes sem conta.
Sabes, não duvido que ames mais do que eu. Ou que nos ames a todos, muito, mais e melhor do que eu. Que saibas estender a mão a todos, abraçar a todos e chorar por todos, por igual. Ainda por cima prometes amar-nos eternamente. Contra isso, contra esse amor sem deslizes, sem dor, sem condicões, nada posso, bem sabes.
Mas gostava que daí de cima visses bem que aquilo de que nos fizeste, bem ou mal, encheu-nos de vontade de amar. E nesse amor, nesse vestir a pele do outro, nesse acolher, nesse perdoar, nesse lutar diário e sonhar acordado, vejo-Te a Ti.
Sabes que temos mãos e olhos e um coração, que serve de memória mas sem Alzheimer. Sabes que desde pequenos somos enredados nos laços dessa "coisa" chamada Amor e que nos puxa uns até aos outros, até fazer faísca. Sabes, não sabes? Sabes que há lugares de onde nada, nem coisa nenhuma podem tirar aqueles a quem amamos. Sabes o que é rir mesmo com vontade? Sabes o que é chorar porque, de repente, já não tens quem te abrace, ou quem se encha de orgulho por ti? Sabes o que é o colo, o que são os abraços e o amar com aquela dor e alegria, tantas vezes maior do que tu?; aquele amar sem limites?; aquele amar tão maior do que tudo, do que qualquer coisa que chego a pensar que é um Amor como o teu? (Desculpa a pretensão, mas modéstia e Amor nunca combinaram.)
Mas como vês tu isso? Não nos vês tão felizes, não sabes tu que tudo se compõe sempre com o cimento dos afectos? Acredito que saibas tudo isto. Acredito que, ainda que à tua maneira, sorrias de contentamento por nós.
O lugar que nos deste para amar, para nos amarmos uns aos outros, não é fácil. Mas conseguir medrar por aqui, nós conseguimos fazê-lo, tens de admitir. O Amor tem destas coisas. O que queremos mesmo que cresça, há-de singrar, porque as raízes são bem fundas dentro de nós.
Por isso, não te peço para nos fazeres mais perfeitos, mais capazes desse teu Amor. Peço-te que nos deixes os rostos, as mãos, as almas para habitarem os lugares de sempre. Para que os reencontremos todas as vezes e para que nos acolham no lugar que nos habituamos a chamar de "nosso". Eternamente, enquanto dure. (Podes fazer com que dure mais um bocadinho, para todos nós?)
E sabes não tenhas medo de ficar sozinho aí em cima. Habituei-me a ver-te com nuances, nas dobras da vida, como num quadro impressionista. E gostava de acreditar em ti. Por enquanto acredito no Amor. No Amor que alguns dos que já cá não estão e que, decerto, ja conheces, te poderão falar. (Diz-lhes que ainda os amo.)
Deixa-me acreditar que hei-de ter isto por muito mais tempo. E de cada vez que encontrar alguém a quem amar, estarás comigo. E este caminho há-de me levar até ti, não tenho dúvidas. Um dia.
Obrigado pelo Amor. Obrigado por podermos sentir, ainda que de maneira tão imperfeita, parte do que sentes por nós. Obrigado pelas palavras, pelas lágrimas, pelos gestos e pelo sentir. Obrigado.
Deixa-os por aqui mais uns tempos. E, se um dia me levares, hei-de esperar contigo por eles. E vou-te perdoar, que sabes bem que nos dia que correm é raro. Lembra-lhes só do Amor que mais do que meu, foi sempre deles.
Teu (um bocadinho) e todo daqueles a quem amo,
Ricardo
PS: Aparece. Já não estamos no tempo dos pais incógnitos.

Acordado depois de mim

Há dias em que acordamos sem nós. Dias em que a face que nos olha e por onde nos vemos é a mesma, mas em que parecemos já não conseguir mexer os músculos, para a avivar. Dias em que o corpo que nos acolhe é o mesmo, mas em que a nossa vontade já não faz alinhar os pés no caminho. Há dias em que o caminho parece o mesmo de sempre - com o primeiro nudismo das árvores a cobrir a pedra dos passeios, o primeiro vento que, agora que voltou, parece querer soprar com mais força; as mesmas ruas enlaçadas em beijos de esquina; os primeiros arrepios com a noite, mais rápida e mais escura. O Mundo é o mesmo, apenas com mais dias.
Contudo, caminhamos ao lado disso tudo. Como se nos tivessem deixado acordados depois do que fomos. E isso, o que já fomos, as coisas por que já corremos tantas vezes e, tantas vezes, nos fizeram correr por outras esquinas e alinhar os passos por outros caminhos, parece perdido ou já muito longe de nós.
Curioso como a vida, com a perda, parece um cenário que nos teima em lembrar o que fomos. Em cada esquina, de cada vez que o vento chega soprando e as àrvores se revelam para se deixarem envolver por ele. De cada vez que a vida se cumpre mais uma vez, lembra-nos do que fomos. E, embora passemos no mesmo caminho, o destino pode ser já um virar antes ou um seguir mais um bocadinho, para virar depois.
Ali ficarão os ecos e as palavras gravados contra as paredes. Ali, em todas aquelas pedras da calçada, ficarão as imagens e a memórias de presenças e o cheiro a estórias.
Podes fugir, mas não te podes esconder. E o que foste e o que foi de ti, em cada grão da vida, guarda-o a memória que habita as ruas e todos os lugares de sonhos mais acesos e passos sedentos do encontro.
Dói quando sempre que aí voltas, sentes que caminhas sozinho. E que os sons e o calor daquela presença talvez já não te acolham, naqueles primeiros golpes de ousadia do vento. E o Mundo parece cumprir-se sem ti. Como se o vento, de repente, viesse cedo demais para assolar-te o caminho; como se agora não conseguisses descobrir em que esquina te deixaste encostar e te perdeste; como se as folhas do chão, como vestes despidas, te lembrassem do adiar da entrega.
Seria bom sermos o Mundo. Com a certeza de que das folhas que caem, nascerão outras, sempre mais verdes, sempre sem medo de cair, sempre como da primeira vez. É isso, o Mundo cumpre-se todos e cada dia como o primeiro - com a mesma entrega a um destino que não se escolheu, mas que é o dele.
Talvez a nós a nudez nos incomode quando já não temos quem nos envolva; a nós talvez nos doa o caminho quando os passos são só os nossos e as esquinas sejam encruzilhadas onde nada do que queremos e em que cremos esbarra já em nós.
Páro, respiro e ouço o silêncio da noite. E lembro-me que o caminho e as esquinas e o vento que sempre volta, não podem roubar-me o que já fui. E que agora, que talvez já não tenha o mesmo, eles ali se mantêm, à espera.
Para que com eles nasça em mim, todos os dias, a esperança sempre mais verde, sempre como no primeiro dia, sempre sem medo de cair. Sempre esperando que a nudez mais perfeita da minha alma, encontre o vento que a envolva e leve as folhas com ele, a baloiçar, pelas esquinas desse Mundo. Como no primeiro dia.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Verão

Foi-se o Verão. Foram-se os dias do esperguiçar lento na praia; os dias do tempo a escorrer nas ondas. Das horas leves e dos toques quentes e dourados do Sol na pele. Ali ficaram gravados os trilhos na areia, logo engolidos pelo mar. Foram-se as noites de licor, com o vento a embalar os gestos cansados.
Ali ficaram todas as entregas e o nascer dos dias vezes sem conta, com olhares à mistura. Foi-se o rendilhado de espuma nos pés; o tempo sem tempo e com tempo para nós.
Ficaram ali as palavras a que o vento roubou o som e fez ecoar algures, como a voz de uma promessa. Ali ficou a calma quieta do silêncio, com o picotado luminoso das estrelas, no céu.
Ali ficou o segredo partilhado, a vida com sabor e os cheiros do tempo que pára. Ali fiquei eu, sentado. Invisivel a todos, mas mais claro que nunca a mim mesmo.
Assim recordarei o Verão - como o tempo dos dias longos e das noites quentes, com o ressoar morno do salitre. Como o dos passos lentos, num espelho de água. Como o tempo e o lugar das entregas, a confiar que nunca se perderão. Ali me lembro e ali lembro de tudo. E enquanto o Verão corria no baloiçar das águas, a passos lentos, foi me gravando na pele, o suspiro do alívio, a gargalhada da vitória, quando pensamos que tudo, afinal, já passou e é nosso. Estes dias cravaram-me na pele o desejo de caminhar de novo. Para que os passos me conduzam sempre ali. Ao lugar da calma, da memória, do evocar já sem espinho.
Sorrio, suspiro e deixo-me cair de costas na areia. Estou certo que o vento me roubou o ar. E levou para algures aquela promessa de serenidade. Para que um dia, quando volte, o peito se me insufle um pouco mais e o ar me lembre de quem fui.