Rewind

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Verão

Foi-se o Verão. Foram-se os dias do esperguiçar lento na praia; os dias do tempo a escorrer nas ondas. Das horas leves e dos toques quentes e dourados do Sol na pele. Ali ficaram gravados os trilhos na areia, logo engolidos pelo mar. Foram-se as noites de licor, com o vento a embalar os gestos cansados.
Ali ficaram todas as entregas e o nascer dos dias vezes sem conta, com olhares à mistura. Foi-se o rendilhado de espuma nos pés; o tempo sem tempo e com tempo para nós.
Ficaram ali as palavras a que o vento roubou o som e fez ecoar algures, como a voz de uma promessa. Ali ficou a calma quieta do silêncio, com o picotado luminoso das estrelas, no céu.
Ali ficou o segredo partilhado, a vida com sabor e os cheiros do tempo que pára. Ali fiquei eu, sentado. Invisivel a todos, mas mais claro que nunca a mim mesmo.
Assim recordarei o Verão - como o tempo dos dias longos e das noites quentes, com o ressoar morno do salitre. Como o dos passos lentos, num espelho de água. Como o tempo e o lugar das entregas, a confiar que nunca se perderão. Ali me lembro e ali lembro de tudo. E enquanto o Verão corria no baloiçar das águas, a passos lentos, foi me gravando na pele, o suspiro do alívio, a gargalhada da vitória, quando pensamos que tudo, afinal, já passou e é nosso. Estes dias cravaram-me na pele o desejo de caminhar de novo. Para que os passos me conduzam sempre ali. Ao lugar da calma, da memória, do evocar já sem espinho.
Sorrio, suspiro e deixo-me cair de costas na areia. Estou certo que o vento me roubou o ar. E levou para algures aquela promessa de serenidade. Para que um dia, quando volte, o peito se me insufle um pouco mais e o ar me lembre de quem fui.

1 comentário:

Mistral disse...

e s p e c t a c u l a r