Rewind

domingo, 22 de novembro de 2015

Avós,

Vim, Avós, mostrar-vos um poema.

Há uma estrofe em que quase não digo nada
-  as gargalhadas felizes que vocês me deram dão versos lindos
e o jardim florido traz nas pétalas a rima fácil do sol.

Vim, Avós, mostrar-vos um poema.

Há mais uma estrofe em que vamos no carro a caminho da Aparecida
- a Avó o co-piloto mais piloto do mundo
e a tua ternura, Avô, como se fosses sempre mostrar-me o caminho de casa.

Vim, Avós, mostrar-vos um poema.

Há uma estrofe cheia do açúcar dos doces da Gó
- no amor é sempre tempo de colheita
 e há sempre alguém que me chama "menino," outra vez.

Vim, Avós, mostrar-vos um poema.

Há mais uma estrofe com o retrato dos Pais
- aprendi a desenhar o amor com as palavras
já que o infinito da matemática não me serve de medida.

Vim, Avós, mostrar-vos um poema.
- no banco do jardim, a Avó abraça-me com força
e a estrofe acende-se mais quando lhe digo,

Amo-te muito, Milinha,

Cá dentro, os dois, sabemos que nos ouves, Avô,

e isso chega.

RM| XXII-XI-MMXV

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mãe,

Esperaste-me, Mãe. 

no princípio, deste-me o nome e acendeste o escuro. 

Esperaste-me, Mãe. 

os bolsos tão cheios de sonhos, a porta de casa que nunca mais deixaste trancada. 

Esperaste-me, Mãe. 

e dançaste-me na barriga ao som dos vinis que ouvias à noite. 

Esperaste-me, Mãe. 

e foi a tua mão que me lavou da pele o medo, a saudade, a tristeza. 

Esperaste-me, Mãe. 

e escreveste-me os postais mais bonitos que já recebi. 

Esperaste-me, Mãe. 

e ensinaste-me a fé das palavras e a escrever como quem chama.

Esperaste-me, Mãe. 

e fumaste comigo todos os fins de tarde de Verão perto do mar.

Esperaste-me, Mãe. 

e viste beijos nas falhas e abraços nas ausências.

(desculpa)

Esperaste-me, Mãe. 

e percebi contigo que as Mães deixam com os filhos uma espécie de pergunta no mundo. 

Esperaste-me, Mãe. 

toda a vida, toda a noite, sempre no lugar onde começava o regresso. 

Esperaste-me, Mãe. 

a porta sempre aberta, 

a roupa, às vezes, suja dos enganos do mundo. 

e tu, sempre. sempre tu e os cigarros como se o mar estivesse por perto e houvesse luz. 

Esperaste-me, Mãe. 

e eu trouxe de ti a tal pergunta cravada no leito dos olhos. 

Esperaste-me, Mãe. 

(Obrigado.)

eu volto sempre a tempo de um cigarro e um beijo 

que é como quem diz, minha Mãe, que és tu a resposta que vim ao Mundo para aprender. 


RM | X.XI.MMXV.