Rewind

sábado, 29 de novembro de 2008

O tempo que tu me demorarás

Viverás até quando? Até quando verei a tua sombra no chão iluminado da vida? Quanto da tua vida se infiltrou na minha? Quantos dias dos teus me deste para que agora os meus não mo sejam sem ti? Não sei quantos dias a memória do teu nome demorou até ser mais do que apenas isso.
E se te tivesse conhecido mais cedo? Como seriam as minhas horas - essas em que apenas não vejo a tua face e não adivinho os contornos do teu colo?
Quanto é que é preciso de uma vida para que um corpo saiba um outro como a si? Quanto tempo demora o "gostar"?
O que faz o tempo às coisas que não são coisas?
Não sei se também no que toca aos sentimentos, o passar das vagas do tempo as faz mais fortes ou simplesmente diferentes, mas reconhecíveis. Ou apenas pó de uma lembrança que dói.
Abri o meu peito à erosão feroz do vento que me lembra de ti; fiz de mim a seara mais fértil e dourada e fui o mar que plantou uma rocha com o teu nome. Passa o tempo.
Não sei se passa o tempo pelo "gostar", se o "gostar" pelo tempo. Mas quanto tempo se passa até que o "gostar" pare nesse ponto de absoluto? Com o tempo a correr, mas já não importa.
Não sei quanto tempo demoraste a caber no espaço que a minha vida descobriu para ti, como a uma falha que nunca se conheceu mas que agora, uma vez cheia, nos torna o deslizar da areia do tempo menos árido. Não sei quanto tempo demorei a ouvir em ti o som de palavras minhas; a ouvir aí memórias de caminhos onde se podiam ter cruzado as nossas existências.
Podias ter nascido no mesmo dia que eu. Estranha esta sensação de que podíamos ter vindo do mesmo sítio. Como gostaria de ter estado lá, contigo, mais cedo. Desde sempre. E não apenas como um sonho enovoado, ainda sem nome.
Estás aqui. Ficaste aqui. Não sei desde quando. Agora parece desde sempre. Fiz da minha vida o chão do teu caminho. Prometi-ta.
Deixo o tempo passar. Ele passa e talvez não consiga deixar ou querer que o gostar passe por ele.
Por quanto tempo ficarás?
Sabes, ensinei ao meu coração o teu nome e disse-lhe que ficarias. E ele acreditou.
Podia passar uma vida inteira a gostar de ti, sei-o bem. A gostar de ti, mesmo sem ti. Haverá lembranças minhas suficientes para nos lembrar aos dois.
Não sei o tempo que me demoraste a ficar. Mas quero-o demorado na partida.
Que passe o tempo. E que fique o "gostar" como algo que vai sempre a tempo. Todos os dias. Por muito tempo.

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