Rewind

terça-feira, 16 de agosto de 2011

do Minho.

Há no Minho um país feito de verde que desagua na fita azul do mar de encontro ao sol. Há um céu alto como o tecto de uma catedral toda bordada de luz e beijada pelo vento.



As cidades do Minho são como velhos hinos a um Portugal de caminhos serenos, vales imensos, almas abertas como janelas perto dos campos cultivados de milho alto.



As fachadas são como corpos sempre presentes com braços de ferro forjado feitos varandas floridas e as pessoas têm no gesto e na voz a pureza afiada da sinceridade.



A voz, como a paisagem do Minho são um convite - é como se se entrasse num universo paralelo que se conservou intacto porque forjado nesse poder feito cumplicidade.



Percorrer a pé os caminhos entre as pequenas terras beijadas pelo mar é encontrar essa fé erguida contra o fogo do ar quente e tocada pelo cheiro intenso a maresia nas tardes que adormecem.



O Minho é como um véu de silêncio e de acalmia - ouvem-se as horas naufragar sob o peso do ar límpido e os corpos a recolher do arrepio das noites ventosas uma disponibilidade para saborear; para tocar com os dedos essa promessa de liberdade que é o tempo feito ausência.



No Minho a culinária é genuína - vive-se ainda muito perto dos ciclos da terra e há uma altura em que os legumes e as sobremesas enfeitam as mesas a afiar a gula.



As casas erguem-se perto de florestas - tudo é monte e mar e cultivo - nessas casas há sempre o cheiro da terra, o humor de uma paisagem animada e viva e o rumor altivo do mar.



As noites do Minho são uma sinfonia de vento que varre a escuridão com o seu passo apressado.



Mas os olhos dos minhotos revelam o carácter vincado e manhoso daquelas gentes - o Minho equilibra-se em alianças que remontam a tempos imemoriais e tudo se mantém porque todos sentem aquela terra como sua. Nesse sentido, há um sentimento de partilha, embora o Minho seja terra de caseiros que alimentam no peito um desejo de pertença que desliza facilmente para a posse e a sua vertigem e violência.



As gentes do Minho fazem daquele pedaço, um caminho sempre a tempo desse país que resvala noutros sítios tocado por uma modernidade bacoca e uma fraudulenta confusão de luxo com prosperidade.



O Minho é a face mais perfeita do Norte - um carácter esculpido como o ouro de Viana num trabalho impressionante e genuino; é terra onde a natureza não se rende e isso imprimiu no coração daquelas pessoas a humildade, que é uma filigrana de valor incalculável.



Ao Minho volta-se mas o Minho nunca se esquece - como num amor aceso, esse lugar é todo ele, sempre, uma promessa de saudade que se nos grava no peito para ficar.



Há nas mulheres minhotas essa gentileza de um sorriso que quando se abre totalmente se assemelha muito aos dias de Sol. Mas as mulheres do Minho não se vergam - há nelas uma legitimação que vem do esforço e de só acreditarem na vida como uma forma de comunhão.



O Minho é terra de poder mas sobretudo de legitimidade - ela nasce da memória feita pedra firme e do exemplo. As gentes do Minho acreditam no exemplo e é isso que respeitam.



Por isso no Minho se conquista apenas com o carácter feito manifesto nas acções dos homens. Não há amores no Minho que nasçam das palavras - as mulheres do Minho preferem o silêncio convicto da acção do que rumor vazio de promessas.



O reencontro com esses lugares, essas pessoas e esse modo de viver são como respirar um ar que escasseia.



Em nós, fica essa melancolia que emana das escarpas da paisagem e que deixa na pele saudades do cheiro a maresia e do arrepio fundo que só a beleza feita uma espécie de altar pode causar.



O Minho não é, afinal, um capricho - para aquelas gentes e para todos os que, como eu, por ele se apaixonem assume, no final de contas, a forma inteira de uma devoção.

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