Rewind

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

na solidão do lume,

na solidão do lume eu disse-te,
 
quero-te
 
e a minha pele derramou na tua poemas inteiros com rimas que dançavam nas sombras.
 
sabes, amor, nos confins da tua boca há duas mãos que me querem como se soubessem de cor o enigma inteiro do que sou.
 
rio-me quando penso que os teus lábios dão uma história - costumo escrevê-la nos lençóis enquanto trinco nas madrugadas o luar que o estuário do teu ventre tem guardado.
 
a tua boca foi o princípio de tudo - nela pousei os olhos como se fossem dedos e quis entrar. sorriste-me quando te disse,
 
podia perder-me dentro desses olhos e não me importar nadinha com isso.
 
a tua boca foram uns braços estendidos, a garganta apertada com a vontade de te dar coisas de que não sabia o nome, o olhar a querer romper inteira a névoa de todas as esperas.
 
na solidão do lume eu disse-te,
 
mata-me
 
o amor é um cavalo que caminha também enquanto durmo - sempre acabo encontrando os bocados de vida que faltou roubar ao declive longo da doçura das tuas pernas e a geografia do sonho passa-me, por entre os dedos, a areia toda da nossa história.
 
que bom rever-te a ti e a todas aquelas pequenas coisas onde o amor já estava e a solidão começou a morrer aos poucos.
 
lembro-me que te dei a mão e a memória é uma varanda de onde nos vejo, agora, atravessar a rua outra vez. os dois agarrados com a pele a cheirar aos sonhos um do outro. os dois saciados de uma fome antiga de infinito e maresia.
 
vem
 
que em todos os momentos o presente entre no futuro dentro dos nossos corpos de mãos dadas.
 
[por dentro]
 
entro sempre na vida pela porta do teu corpo, amor.
 
na solidão de todos os lumes,
 
na espessura muda de todas as esperas,
 
na saliva de todas as palavras adiadas,
 
lembra-me

lembra-me como se a demora fosse somente o tempo de inventar outros beijos, como se a demora servisse apenas para chegarmos a um tempo que nos sirva.
 
na solidão do lume eu disse-te,
 
amo-te 
 
e só estou mesmo à espera do sonho mais bonito para fugir contigo

e não acordar nunca.
    
 
 
 

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