Rewind

quarta-feira, 19 de março de 2008

O nosso lugar no Mundo

Há um lugar nosso no Mundo. Acredito nisso. Um lugar de onde se vê e onde se traz o Mundo, como uma criança contente que traz na mão um segredo. Aqueles lugares que, mesmo não tendo paredes, são o lugar onde penduramos as imagens; os lugares que nos protegem. Há lugares assim, no Mundo. Lugares onde o tempo pára e tem o nosso tamanho. Onde o ar se suspende ou corre muito devagar. Aqueles lugares para onde olhamos através de uma janela ou, não podendo, guardamos para nós e evocamos sempre.
Poucos os lugares onde o tempo é nosso. Onde o tempo é para nós. Às vezes, sim, deixamos o nosso lugar. E corremos com o Mundo e com os carros e os fumos. E vemos as estrelas e o Sol de outro lado, lá longe. Pisamos outra terra, sentimos outro ar. E gostamos disso, que diabo. O vento que nos chega, naquele nosso lugar não passou pelos mesmos sítios, não traz a mesma vida e o seu sabor. E as estrelas adquirem um brilho diferente para quem as olha, daquele solo. Mas só então é que percebemos, lá longe, que este Mundo distante tem um sítio para ser vivido. Ou revivido. E ansiamos o regresso, para que a memória se chame e nos relembre o que foi de nós por lá. E colocamos no nosso reduto as cores, os sons, as vibrações e as vidas dessas outras paragens. E guarda-mo-las, ali. Para vermos, de vez em quando, o filme da nossa vida. Que desfila nessas paredes sem cor, que o vento reanima, as vezes, quando corre mais depressa.

E são lugares de partilha. Lugares onde deixamos entrar alguém. Para nos ver nessa nudez perfeita; para connosco saudar o Sol que ali desenha linhas mais audazes que em nenhum outro lugar; para dançar connosco à chuva que ali dilui e dissolve mais que em nenhum outro lugar. São estes os lugares que nos são fáceis ao corpo e à alma. Que parecem ter o nosso nome escrito, mesmo antes de nós. É bom encontrar lugares assim. E, por vezes deixar, nem que seja uma só, o Mundo ganhar-nos a corrida por detrás das costas. E entregarmo-nos a esse lugar sem tempo ou com todo o tempo que o Mundo, afinal, não tem.

E quando um dia tivermos de partir, levamo-lo connosco. E ninguém o verá ou saberá dele. Identificam-nos tão pouco esses tais de B.I., não é? A não ser que falemos deles a alguém especial - daquelas pessoas que parecem ver o Mundo pelos mesmos olhos que nós, que quase vestem a nossa pele e com quem estamos como se estivéssemos só connsoco. E quando não falarmos nele e for enorme a distância, há de nos encontrar o vento a lembrar-nos a origem e o que fomos, um dia.

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