Rewind

segunda-feira, 17 de março de 2008

Um outro Reis … um outro Amor… uma outra Lídia

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira rio.
Apaixonadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
Enlacemos as mãos.

Depois pensemos, seres adultos, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Enlacemos as mãos, porque vale a pena amarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como um rio.
Mais vale saber passar apaixonadamente
E com desejos grandes.

Com amores, ódios e paixões que levantam a voz,
Com invejas que dão movimento que chegue aos olhos,
Com cuidados, porque se os não tivesse o rio sempre correria
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos intensamente, sabendo que podemos,
Se quisermos, trocar beijos e abraços e carícias,
E que isso vale mais do que estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o

Colhamos flores, peguemos nelas e deixemo-las
No coração, e que o seu perfume eternize o momento –
Este momento em que corajosamente não tememos nada,
Fiéis conscientes da decadência.

Ao menos, se for sombra depois, lembrar-te-ás de mim.
E que a minha lembrança te console, contente e diga
Que sempre enlaçamos as mãos, e nos beijamos
E fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás intensa à memória lembrando-te assim – à beira rio,
Amante alegre e com flores no coração.

Ricardo Reis (apaixonado)

3 comentários:

Bárbara Bentes disse...

Ah meu querido:)sabes,que adoro este poema!Sabes,o carinho que tenho por ele.Curiosamente,ainda não tinha ousado publicá-lo no "Criança que pensa em fadas",talvez precisamente por isso...por gostar tanto,e tão intimamente!Mas quem tem amigos tem tudo,e pelos vistos já não terei que publicar...sempre que me quiser deleitar mais uma vez,venho viajar aqui.
Um beijo de bom-dia

Ricardo Mesquita disse...

BB,
Este é o "meu" Ricardo Reis. Tal como gostaria de o ter visto e ouvido falar. Este é o Ricardo que eu queria para a Lídia. Porque quem "abdica e é rei de si próprio", não se pode respeitar mais por isso mesmo. E a incapacidade de alguém amar, não pode triunfar sobre a vida de outrém. Espero que, tal como eu, gostes mais de o imaginar assim.
Um beijo.

Bárbara Bentes disse...

Sim,meu querido...eu sei!Gosto dele assim...aliás sempre o senti desta maneira...do "apaixonadamente",não tanto do "sossegadamente"do nosso Ricardo!!
Um beijo