Rewind

domingo, 17 de maio de 2009

Invocação do teu nome

Sonhar por cima das ausências. Continuar a visitar os nomes; a lembrar o sentido que tudo fez e que tudo continua fazendo, mesmo que o sonho tenha falado numa voz que não se quis. Continuar a lembrar porque também valem a pena as coisas que perdemos. Lembrar que sobretudo não as queríamos ter perdido e desejar que a liberdade que elas têm lhes lembre que por não se querer perder, se acaba, por vezes, precipitando a perda.
Continuava a sorrir quando se lembrava de uns dias quaisquer que foram seus - assim cheios de coisas que são como fotos que o tempo amareleceu mas a que não esquecemos as cores verdadeiras. Demorava-se a pronunciar certo nome- e não, não desapareciam as recordações que o enchiam de significado. Para ele, os nomes e o amor que lhes temos são aquilo que fica do que nos aconteceu com os outros. Quando se demorava na evocação de um nome ou de alguém que já não vinha no dobrar da esquina, pertencia-lhe bem preso no som mudo dessas palavras, aquilo que existia guardado do mundo.
Quando chamamos o nome de alguém ou o recordamos fica connosco aquilo que ninguém lhe pode chamar também - fica justamente o nome que lhe deu o nosso amor.
Por isso, não lhe doía chamar ou revisitar o nome desse alguém. Porque sabia que estaria a voltar à verdade que fora sua para conhecer. E gostava de se ver nesses dias - talvez para saber se a voz que sempre acaba chamando quem lhe lembra ainda era a desses tempos. Sabia que, por cima dos erros, continuava a ouvir nessa voz a mesma vontade de que não se esquecesse o que guardamos.
Talvez nele nunca se esquecesse o grandioso que foi termos sabido que o nome de alguém que amamos tem um pouco de nós lá no meio.

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