Rewind

domingo, 9 de agosto de 2009

"Anda cá, quero mostrar-te uma coisa"

"Anda cá, quero mostrar-te uma coisa." Tinhas os olhos acesos, como pequenas faíscas num céu de trovoada. A casa estava quieta como os corpos cansados depois dos gestos lhes cumprirem o destino e a palavra. As paredes caiadas de um branco imaculado e espesso. Tu e o teu vestido branco e comprido com a graça do teu corpo a fazê-lo dançar como o vento.
"Anda cá, quero mostrar-te uma coisa." E na pele trazias esse tempero vivo do mar. O cheiro da areia e das ondas gravado no lençol moreno da tua pele.
Pegaste-me na mão e desenhaste na noite um brilho diferente com o sorriso amplo e radiante que trazias posto no teu rosto feliz.
Deixamos a casa. As janelas abertas e as velas espalhadas como pequenos faróis enterrados na massa macia das dunas. Descalços e vestidos de noite e luar caminhamos em direcção ao mar: amplo, imenso numa acalmia espelhada e luminosa. A Lua num redondo perfeito e farto.
Encostaste a tua cabeça no meu peito e nada disseste. Senti-te colar a tua pele na minha e o desejo que tinhas de que o amor que sentias bater no peito nos cosesse assim para sempre.
Sentaste-te encaixada nas minhas pernas e, de novo, o cheiro do mar preso nos teus cabelos. Respirar o ar da noite depois do encontro dele com a tua pele e tudo parecer mais suave como um murmúrio. Desenhar na rocha polida do teu corpo beijos como as ondas do mar. Lançar o vento do meu desejo nas paredes da tua pedra. Recolher ao teu porto - abrigo escondido em horas de deriva. Estivemos só os dois naquela praia. Tu como um promontório onde eu pudesse ver a vida com essa distância segura de um chão firme. A voz abafada do mar a bordar pedras, conchas e búzios na areia. E o luar a cobrir o teu corpo de uma luz mais leve.
"Anda cá, quero mostrar-te uma coisa." E, como de todas as vezes que a tua voz me chama nesse tom rouco e intenso, eu pude ver como a vida é maior depois da sua corrente me ter deixado para amar o recorte perfeito do teu corpo no meu.

3 comentários:

Optic disse...

Absolutamente envolvente. :)

Ricardo Mesquita disse...

Muito Obrigado :)

luisch disse...

Olá Ricardo! Obrigado pela visita ao meu estaminé. A Joana já me tinha falado do teu Vagão mas ainda não o tinha descoberto. Vemo-nos por aqui :)

Abraço!