Rewind

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley

Acabada de reler a fabulosa obra "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley fica apenas uma enorme satisfação. Poucos são os livros que nos deixam a pensar. E em que tudo começa verdadeiramente a acontecer depois da última linha. "Brave New World", título inspirado numa fala da personagem Miranda da obra "Tempestade" de William Shakespeare, é uma dessas. Aparece-nos retratada uma sociedade do futuro - normalizada, um verdadeiro império da técnica e um hino ao condicionamento psicológico das pessoas. Uma verdadeira sociedade totalitária em que o indíviduo se vê desprovido dessa liberdade crítica perante o mundo e, no fundo, perante si mesmo.
Dotada de uma notável e arrepiante capacidade de antecipação, a escrita de Huxley alerta para a grande escolha e o equilíbrio frágil e difícil entre a técnica e a preservação da Humanidade.

Recheada de uma critíca implícita que começa nos nomes e acompanha sempre o retrato das personagens, acabamos a leitura deste livro com um sentimento de simpatia por esta liberdade de sentirmos e sermos o nosso próprio destino. E fica um medo que brota do facto deste retrato ser, sobretudo nos dias que correm, uma possibilidade cada vez menos remota.

Como escolher entre a aniquilação total da existência, vivendo e o suicídio como o Selvagem?

Arrepia e faz o leitor sentir uma repentina claustrofobia essa ideia de que, de repente, Shakespeare, o Amor, a saudade, a família e mesmo a tristeza e a morte desapareçam sob um manto de felicidade vazia. Arrepia a manipulação da vida, o roubar a escolha do indíviduo perante o seu futuro e o apagar da dúvida. Quando tudo se manipula, se calcula, se determina com base num desejo de estabilidade fica a aridez plana de um longo deserto. E, no meio desta travessia, a personagem do Selvagem é um oásis e a face disso que nos faz gente, que nos torna reconhecíveis e identificáveis no meio de uma multidão.

Lançado numa maré incerta, resta ao Homem a certeza da sua liberdade como o princípio da resposta a todas as suas dúvidas. E é isto, sem dúvida, que torna admirável este velho mundo.

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