Rewind

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Na praia


Desceu e procurou o mar. No céu rasgavam-se as nuances do poente. A praia estendia-se como um lençol de infinita brancura. Sentou-se com o licor onde o Sol derretia o calor bem em frente dos olhos. Finalmente o espaço onde podiam caber os seus pensamentos. Onde podia respirar a voz que o mundo aniquilava nas ruas da vida.

Desenhou no horizonte a aritmética impossível da saudade. Relembrou passos de outros tempos nessa mesma praia - tempos que a sucessão dos dias levara. Estranho como pode o tempo passar-nos fora e, cá dentro, continuar a vida presa num dia que não acabou na linha horizonte.

Viu-se com o acreditar a caber inteiro no peito. Que estranha crença a que mantinha numa coisa tão desabalada como o Mundo. Pensava no absurdo das ruas cheias de ruído, na alcatifa suja das almas abafadas nas multidões.

E gostava da solidão. Saber-se inteiro no tamanho que tinha longe de outras sombras na sua.

Às vezes, vinham as recordações como ondas visitar a praia da sua memória. Recordava já sem doer. Demorava nalguma lembrança escondida de instantes mais leves.

Devolvia ao Mundo o que o Mundo vira mas agora era a sua voz que lhe emprestava vida e movimento. Não podia levar a praia consigo. Mas ao menos poderia levar o que nela foi dele. E isso, mesmo depois do poente, eram os dias a nascer de novo. A cada dia. Todos os dias.

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