Rewind

sábado, 7 de fevereiro de 2009

As flores

Um dia trouxeste-me flores. Chegaste com um vestido a que emprestaste a tua graça infantil, o cabelo desalinhado sobre o recorte minucioso dos teus ombros. Nos olhos a malícia meiga da provocação.
Eras, sim, a minha flor. Tu que pegaste logo numa jarra de vidro qualquer que encontraste perdida num dos armários da cozinha que mal conheço. Encaixaste cada uma das flores com um aparente descuido. Olhavas para mim e sorrias. Fixei a luz que se derreteu no castanho dos teus olhos.

Foste pô-las em cima da mesa onde os papéis se amontoavam. Foste pô-las bem no meio da minha vida. Tal como eu te tinha a ti - nesse amor aparentemente descuidado que tinha no avesso a necessidade de segurança e continuidade que sempre têm as coisas naturais.

Ali ficaram - bem perto da minha face banhada pelos golpes de um cheiro subtil como a nudez implícita debaixo do teu vestido.

Quase imaginava que tinha a tua pele perto da minha de novo ou o teu murmurar perto do meu ouvido.

E era assim a minha vida contigo: um cheiro suave no ar, iluminado pela luz que se derrete na minha pele. E os teus beijos como pétalas que caem de uma jarra de flores qualquer.

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