Rewind

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

No silêncio, as palavras

Gosto de igrejas vazias. Gosto de sentir que há espaço para mim e para aquilo que carrego debaixo do silêncio; gosto de sentir que não há ninguém a roubar-me o ar de que preciso e que me falta no peito, tantas vezes.
Tenho ido a umas igrejas, dessas escondidas da poeira do mundo e da sua voz, para ouvir o silêncio. Para ouvir as perguntas, para não ter nada com que as abafar e elas sairem assim - nítidas e pela minha voz.
Estive muitas vezes sentado num desses bancos, a desenrolar a alma e as suas curvas, sem ter de levantar muito a voz, sem ter de a ouvir sequer. Houve rostos que vi com a vida pendurada por um fio àquela nesga de esperança que era a paz emprestada por uns segundos.
Perguntava-me o que lhes iria debaixo da pele; o que seria isso da vida sair ao contrário mas continuar a ser vida.
Provavelmente não mais verei os rostos daquela gente que, fora do umbral daquelas portas, se perderá de mim, sem volta.
Fui lá para ouvir a profundidade das ausências, para ver até onde iria o avesso dos sonhos. Para ouvir o que calamos tantas vezes à superfície, por debaixo de uma vida que continua e que gostamos de acreditar que acompanhamos sempre. O Mundo não pára connosco. E o sentirmos que há nesse movimento incessante uma fibra e uma força que nos falta, faz-nos recolher a todos, sem excepção, ao silêncio que nos devolve como resposta um silêncio com a calma do peso que saiu. Um silêncio que tem como resposta um silêncio calmo como um abraço fechado, onde se choram lágrimas que são palavras feitas água.
Não fui para falar. Não fui para ouvir respostas. Fui para ouvir em mim o que sempre falou. E não tive medo de palavras que não queria ouvir, de esbarrar com a incompreensão.
Devolveram-me as paredes a calma e o silêncio, onde pude ouvir a memória do que já não tenho e, onde me pôde visitar assim banhada por uma luz tenra, a saudade infinita, que chegara. Não me senti sozinho naquele banco.
Levantei-me, olhei para trás, para aquele mesmo banco de igreja. Não sei quando voltarei. Sei apenas que ali ficou de mim o silêncio que não quebrei mas que ouviu dizer da minha boca em silêncio, o que o Mundo não pode ouvir sem palavras.
Havia saudade. E fiquei feliz - por ser a saudade a prova que dói do amor que ainda temos por alguém. Que dói o amor. Mas que, mesmo com dor, é amor. Como alguém que sai pela porta de uma igreja sem saber quando volta. Mas que voltando, tem um banco onde a luz nos recebe como os braços de alguém que nos ama.

1 comentário:

Inês disse...

'I've heard that it's possible to grow up - I've just never met anyone who's actually done it. Without parents to defy, we break the rules we make for ourselves. We throw tantrums when things don't go our way, we whisper secrets with our best friends in the dark, we look for comfort where we can find it, and we hope - against all logic, against all experience. Like children, we never give up hope...'


'At the end of the day, when it comes down to it, all we really want is to be close to somebody. So this thing, where we all keep our distance and pretend not to care about each other, is usually a load of bull. So we pick and choose who we want to remain close to, and once we've chosen those people, we tend to stick close by. No matter how much we hurt them, the people that are still with you at the end of the day - those are the ones worth keeping.'


You can have both. Think about it...Beijo