Rewind

quinta-feira, 20 de março de 2014

21.03.1946

Aos meus Avós
(o mesmo Amor, todos os dias)

O dia em que tudo começou
O mesmo sol, a mesma igreja
A mesma esperança doce no caminho que se abria
Tu, a minha Avó dos olhos azul-infinito
Ele, o meu Avô das cartas de amor

A escada permanece na fotografia
e os rostos são felizes como se o tempo ali parasse
(sempre há coisas que duram para sempre)
as pessoas são as mesmas, os olhos claros, os cabelos de ouro
(as tuas pessoas, Vóvó)
as pessoas que se levantam das sombras e andam por perto nas tuas palavras
(não os deixes morrer, pedes-me tu)

E o Amor foi um cerco que nos montaram
Um sequestro feliz como se a felicidade nascesse sempre da mesma terra

Ao longe, o verde, sempre o verde e sempre perto
E eu que esperava por vocês escondido debaixo do pó do tempo

Olho-vos daqui aos dois - e agradeço
Que Primavera infinita nasceu naquele dia
E que eternas flores nos deixam vocês no coração

(Era bonito o teu Avô, não era? Gostava muito dele, sabes?)
(Sei, Avó. Eu também.)

E enquanto falas o teu olhar é o mesmo do retrato
- as escolhas, porque livres, justificam-se a si mesmas

Deixo contigo flores onde o Avô descansa
(Ao longe, o verde dos nossos campos a reluzir na luz)

A igreja, o sol, a mesma esperança a nascer de novo
E as flores. As flores que somos nós e que são vossas.

E que voltam. E que voltarão sempre.
Para recomeçar na luz que o abraço do vosso nome
nos deixou no coração.

RM




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