Rewind

domingo, 14 de dezembro de 2008

Os outros somos nós

Quanto cabe do contrário do que queremos na nossa Vida pelo amor que temos aos outros? Pergunto-me até onde irá a nossa capacidade de deixar de sentir a Vida como nossa se não assumirmos como nossos, por momentos e sempre que preciso, os caminhos de outros.
Quando gostamos e para nosso infortúnio (ou não) as pessoas nos roubam a identidade e forjam em nós partes delas que se misturam com os nossos tecidos, não havendo rejeição, até onde vai a nossa capacidade de cumprirmos essa nossa parte? Essa parte que é darmos de nós para nos termos; essa parte que é correr riscos pelos outros na nossa pele, como nossos.
E quanto aceitamos do contrário do que merecemos, quanto aceitamos do injusto e do doloroso porque justamente tudo se reconduz a esse grande manto suavizante do Amor?
Quanto em nós aceitamos que se perca para ganharmos? E serena e convictamente aceitarmos as perdas como um nada perante a vitória mais absoluta dos outros dentro de nós.
Deixar entrar gente na nossa Vida é aceitar lutas que não são nossas e vestir-lhes a pele. Na verdade, quanto da vida dos outros nos sabe e nos falta como a nossa? Quanto da sua dor nos dói como ferrões bem no fundo? Quanto da sua alegria nos contagia ao ponto de não sermos alegres pelos outros, mas alegres nós mesmos - como se nascesse cá de dentro e não fosse aqui posto, por contágio.
Quanta distância toleramos sem que sintamos que parte de nós se nos evadiu?
Quantas excepções admitimos às nossas regras para fazermos todos os dias o amor à medida de alguém, para que sempre se ache envolvido na mais absoluta das protecções?
Quanto dos nossos sonhos deixamos que sejam passos dos outros no nosso escuro?
Quanto dos outros precisamos para nos sentirmos inteiros?
Quanto do Mundo se diminui e se concentra na face daqueles que amamos?
Quanto de nós deixa de ser nosso para que sejamos mais?
Quanto é que somos?
Quanto é que queremos ser?
Quero ser eu. Com os outros, sempre. E por sê-los, ser-me sempre mais.

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