Rewind

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A saudade

Saudade - quando alguém a sentiu o mundo nunca mais foi um absoluto, nunca mais foi inteiro.
Saudade é a falta de algo que não nos falta porque é nosso, mas não o temos. É a falta do que somos e que vive em outros. São precisamente esses bocados de vida que os outros transplantaram em nós e que nos ajudaram a viver.
Imagino a saudade no peito de quem primeiro a sentiu.
É viver o presente como toda uma ausência do passado. Como se o nosso coração não nos acompanhasse mais e ficasse preso a um tempo em que foi feliz. Em que o futuro era a continuação daquilo - daquele encaixe perfeito nos dias e na Vida. Saudade é este fazer rodar o filme da memória por cima do silêncio gritante do vazio, com a esperança vã de que os sons de memórias felizes o calem.
Sinto saudades. E lembro tempos de proximidade e de alegria tão únicos, tão meus que os não posso deixar ir. São coisas que poderia viver e reviver toda uma vida. Dias que recordarei sempre e recordo, ainda agora. Essa vertigem de felicidade que outrora me habitou os dedos que aqui escrevem, eu não posso viver sem ela.
A saudade vem na chuva que volta, a lembrar chuvas mais alegres e chuvas mais radiosas.
A chuva agora é o céu a chorar por mim. Este buraco no peito cheio de nada. Que a vida "que pode ser" não enche porque é uma ficção da outra, dessa que, sim, quereria viver.
A saudade é minha, mas é de ti. Como se me faltasse, então, tudo o que fazes nascer cá dentro. Como se sozinho não conseguisse achar meu o que resta.
Não imagino uma partida. Mas quero-te de volta. Todas as vezes como as outras vezes. O abrigo que é conseguir estar no mundo e não ser atingido por ele. Essa liberdade segura.
Eu trago-te comigo e sinto a tua falta. Como se te tivesse a ti e a esta saudade que é minha e tua. De ti.

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